terça-feira, 12 de novembro de 2013

Retirante

Trajando andrajos imundos
Vagando por estradas sem rumo
Uma procissão de miseráveis
Calados, abatidos, macambúzios
Trabalhadores, camponeses, sem-terras
Homens que nada tiveram
E, não se sabe como, perderam tudo
Mulheres lavadeiras de trouxas na cabeça
Crianças de ventre saliente
E mãos nodosas de adulto
Trazem os corpos cobertos de poeira
Que, dir-se-ia, valem-lhes de segunda pele
Sobre a primeira
Prematuramente envelhecida
O pó substitui a roupa quase inexistente
Meu Deus, são famílias inteiras!
Acostumadas àquele sol inclemente
Às agruras daquela terra
Seca, dura, exangue
Que com lágrima e suor é lavrada
Eles caminham, em meio a mandacarus
Umbuzeiros e xiquexiques
Esperançosos de que haverá futuro
Nas ruas agitadas da cidade grande
Tratar-se-á de esperança, de fato
Ou seriam como uma manada
Agindo por puro instinto?
Fugindo da morte que lhe acossa
Afinal, e isso importa?
Se na selva de pedra serão também a caça
De homens-fera sem escrúpulos?
Não, a esperança que sustentam
Não está na ida
Antes está na volta
Crentes de que, um dia,
A seca há de ir embora
E a sua terra outrora sem vida
Haverá de renascer como a aurora
O cacto florescerá
A macaxeira crescerá
O gado engordará
Então o retirante irá voltar
Quando o sertão fizer-se mar

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