terça-feira, 12 de junho de 2012

Aos trabalhadores do comércio (que não conhecem feriados nem festejam datas)

Disseram-me que se comemora uma data festiva lá fora.
Eu não sei, não. Se não fosse pelo movimento acelerado,
Para mim, este aqui e agora nada teria de diferenciado.
No mármore iluminado, o tempo é igual a qualquer hora.

Já passaram pela loja vários sorrisos abertos, generosos
Eles não desconfiam, mas isto significa trabalho dobrado
Devemos sorrir-lhes de volta, sorriso cínico e mecanizado
Ante o teatro burlesco, temos pensamentos desgostosos

Atendi mais uns, desejando isso e aquilo; “tudo de bom”.
Alguns são mofinas, outros copiosamente desbragados.
Olham, testam, e se vão dando econômicos “obrigado”.
Bem, antes deixassem o trocado do café e da condução.

Corre ali, acode aqui; vende, vende, sempre sorridente.
“Caiu-lhe muito bem, senhora”, é a praxe deste ofício.
”Quer ver algo mais”, “quer que embrulhe pra presente”
“Não? Tudo bem, volte sempre, foi bom fazer negócio”

E eu continuo na mesma, depois de incontáveis natais.
Mais tantos virão, os quais também não hei de festejar.
Entre tantas datas, se quer saber, eu prefiro carnavais.
Trata-se da única data que me é permitido comemorar.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O negócio dos homens

Estamos desesperados por carinho,
Carentes de contato.
O mundo se tornou frio, hirto e plastificado.
Substituímos pessoas por coisas,
E a companhia é agora algo que se pode comprar.
Enquanto alguns vivem sós,
Ainda que mergulhados na multidão,
Outros vivem plenos,
E estão enterrados até o peito na solidão.
Os caminhos se fizeram concreto.
Os amores se mostraram hedonistas,
E a solidariedade, antes abnegada,
Agora é egoísta.
E ninguém enxerga: estamos embriagados.
É natural que humanizemos.
E humanizamos cães, eletrodomésticos, bonecas de pano.
Humanizamos tudo para nos sentirmos humanos.
Talvez negociemos amizades na bolsa.
Talvez se possa investir em amores.
Talvez, na França, investidores especulem com teus dissabores.
Quando se trata de valores, não há limites.
Não há nada que não possam cotar como commodities.
Assim, enquanto vorazes mercadores,
Substituímos fraternidade por retorno líquido e certo.
Sociabilizar é mera questão de contabilidade.
A família deve ser rentável,
E retornável, em caso de defeito.
Capitalizaste o sonho,
Fizeste do sentimento um ativo.
No teu peito bate um relógio.
E teu coração, amigo,
Vendeste num lucrativo negócio.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Entre realidade e sonho, as horas mortas

Reina calma a clara manhã lá fora.
Entre a vastidão do céu e da terra,
Sossegado,
De mãos e braços dados,
Um pequenino casal enlevado,
Entre beijos e afagos,
Se namora.
Tantas coisas ao redor dando-lhe voltas.
Mas, desapercebido e arrebatado,
O casal nem toma nota.
Simplesmente ignora.
Que mais poderia haver no mundo afora,
Senão solidão e felicidade morta?
Diante do fato,
Os de pouca sorte como eu,
Estupefatos,
Entreolham-se e perguntam:
Que faço agora?
Pois eu respondo:
Ri, canta, dança, ama, chora.
Curta a vida,
Passa a hora.
Curta é a vida,
Hora vai atrás de hora.
Esvai-se mais uma agora.
Ri, canta, dança, ama e chora.
Em uma palavra: goza.
Goza a vida porque o que ela dá,
Logo toma de volta.

Aos povos que virão

Aos povos que virão,
Peço penitência,
Por nossa tão infame ignorância.
Meu povo fora estúpido e vilão.
Peço complacência,
Ante a mesquinha ganância,
De um povo ignaro e chão.
Não sabíamos, não tínhamos ciência,
De que estava por vir a mais sombria escuridão.
Faltou-nos mínima sapiência,
Presciência e razão.
Agora, paciência, paciência,
Vocês nos dirão.
De nós, sobrou-lhes vaga lembrança,
E a esperança,
De que dias melhores virão.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Voltas e reviravoltas

A saudade bate forte,
Das coisas que foram embora.
O mundo é grande e dá voltas,
Mas nunca o suficiente.
Nunca é o suficiente,
As reviravoltas.