sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Eu vi

Eu vi os nossos sonhos acordarem num pesadelo,
E vi a ganância mais abjeta cercar-se de desejos.
Vi o desterrado pobre figurar ao rico como objeto,
E seu filho reproduzir na corrente mais um elo.


Eu vi que para se encontrar um amor não basta querê-lo,
E vi suas cândidas belezas esvanecerem-se entre meus dedos.
Vi na timidez de um homem os medos em forma de trejeitos,
E na solidão minha companheira eterna desde o berço.


Eu vi verdades antes hesitantes fazerem-se dogmas,
E vi cegos seguirem sem mais nem mais a multidão caótica.
Vi as cores do mundo se tornar uma tela monocromática,
E as cantigas pueris desvelarem o segredo de sua mágica.


Eu vi passos de um pai capengarem de tão bêbado,
E ví-lo garrear sua própria esposa pelos cabelos.
Vi o filho com o rosto marcado de cinco dedos,
E a mãe, chorando, deitar os olhos para não vê-lo.