segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Família desfeita

Entre uma tarefa e outra que faço
– Uma roupa que lavo,
Um chão que esfrego,
As galinhas que alimento
Algumas roupas que remendo –
Me pego pensando em você
Lembrando o que foi, e o que haveria de ser
Mas que o destino fez questão de frustrar
Lembra-se da primeira vez em que nos vimos?
Você todo tímido, desenxabido
Faltou-lhe coragem para me tirar pra dançar
Eu percebi, mas também não sabia o que fazer
E não é que depois de muito ensaio
Depois de muitas olhadelas de soslaio
A gente resolveu arriscar uns passos acabrunhados?
Você estava tão embraçado
Que eu perdi as contas de quantas vezes meu pé foi pisado
E eu nem senti, porque não conseguia parar de olhá-lo
Toda boba, admito
Éramos jovens, inocentes e esperançosos
Apaixonar-se era fácil
Mas agora isso
Este teu sumiço
De novo só tem feijão no fogo
E eu, o que devo fazer?
Você andará por onde?
Tinha que se meter na cidade grande?
Tanto pior no estrangeiro!
Lá longe, tão longe que eu não saberia dizer quanto
Lá se vai um ano – um ano inteiro! –
Sem notícias, sem saber teu paradeiro
Terá arrumado uma nova família?
Terá sido preso?
Ou pior, morto?
Onde estará você homem de deus!
As crianças estão crescendo
E a situação piorando
Tenho pensado em deixar o vilarejo
Aqui não há mais nada para nós
Não há mais terra, nem trabalho
Só miséria e sofrimento
Será que você estava certo desde o começo?
Mas eu tenho medo, eu tenho medo
Que será de nós, querido?
Que será da nossa gente
Que dia a dia, inescapavelmente
Perde o pouco que tem?

Nenhum comentário: