sábado, 23 de novembro de 2013

O mal do século

Vejo o celular
Só uma mensagem
É da operadora
Penso em fazer aquela ligação
Prometida há meses
Quem sabe depois

Checo a caixa de e-mail
Só me chegam cartas automáticas
Geradas por computador
Ofertas de produtos
Oportunidades de quitar aquela dívida
Às vezes até me cumprimentam pelo aniversário

Quanto à caixa de correio, nem me dou ao trabalho
Há tempos que por lá só chegam contas
Boletos, faturas de cartão
Chegam também livros
Mas livros não são pessoas

Procuro então no Facebook
Idem, nenhum contato
Paro para ver as pessoas interagirem
Constato, com horror, que eu virei uma espécie de voyeur
Satisfeito a observar as relações alheias
As pessoas parecem estar felizes
Pejadas de vida e de amor
Cada vez mais emocionalmente próximas

Decido sair
Me escoro no balcão do bar
E fico a olhar em volta
Risadas, gestos, beijos, abraços
Comemoram, juntos
A alegria de estar vivo
Tomo meu pileque
E volto para casa
Quem sabe um filme

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