quinta-feira, 19 de maio de 2016

Preconceito

Eu estou cheio
De pré-conceitos
Que me deixam estúpido
Quase tudo que apreendo
Cai fora dos meus quadros
Quadrados
Cognitivos
E o que eu entendo?
O que aprendo
De verdadeiro
De novo?
Se tudo que sei
Já sabia a princípio

Eu estou cheio
De tanto preconceito
De negar o que me é alheio
De me afastar do que desconheço
De procurar apenas o afeito
De ser sempre o mesmo
O mesmo pensamento
Quadrado
Fechado
Pequeno

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Navega

Não posso prever o futuro
Nem dele ter qualquer vislumbre
Ou garantia
Apenas espero, torço e rezo

Hoje, sou todo felicidade
Amanhã, quem sabe
Tudo pode estar perdido

Amanhã, me alcança a tristeza
Depois, quem garante
O mundo de novo rodopia

A única certeza
É que tudo muda
Nada permanece

Como navegantes numa nau
Não se vê além do horizonte
A tempestade pode estar logo à frente
Atravessá-la é questão de fé
E coragem
Porque sempre haverá outros mares
Para cruzar

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Poesia aos ultramodernos

No mundo de hoje
Tudo é tão
Efêmero
Incerto
Inseguro
Provisório
Que estamos todos
Abandonados
À própria sorte
À própria solidão

Encruzilhada

Deste agora
Departem tantos caminhos
Dá-se um giro
Meia-volta
Cambalhota
Ziguezagues
E para onde se estava indo
Não se vai mais

Então dá-se conta
Tudo que era tão certo
Todas aquelas promessas e planos
Eram lembranças
De um futuro que existiu jamais
Senão como sonhos

Um entre tantos caminhos possíveis
Uma entre tantas escolhas erradas
Para se arrepender depois
De cruzada a encruzilhada

Aprendizado

No começo
Não era mais do que a pura inocência
Rubra e pulsante
Alegre e vibrante
E então vieram as primeiras agressões
Lembro de sofrer um corte
Pequeno, cirúrgico
Bem no meio do coração
E depois outro
E mais outro
Os cortes foram se acumulando
Deixando todas aquelas marcas
Cicatrizes sob cicatrizes
Disseram-me que tudo ia ficar bem
Que era assim mesmo
Que eu estava aprendendo
Enquanto meu coração lanhado
Ia enrijecendo
Fui aprendendo a suportar
Cinicamente
A não me importar
A fingir que não estava doendo
E fingi tão bem
Que a dor cessou de fato
O vermelho tornou-se acinzentado
O batimento, mecânico
É musculoso
Mas sem graça
Duro e infeliz
E eu nem pergunto mais
O porquê
Foi assim que
Debaixo de todas essas cicatrizes
Eu perdi meu coração

Orgulho

O orgulho é tolo
É egoísta
Sente culpa
E culpa o outro
Mas a si mesmo
Não desculpa

O orgulho é orgulhoso
Pobre, mesquinho e tolo
Por orgulho
Toco fogo no mundo
Saio de casa
Inicio a Terceira Guerra

Mas meus erros
Estes não admito
Meus demônios
Eu não encaro

O orgulho
Não me ensina nada
Vou até às últimas
Falsas consequências
Sendo que bem sei
Que finjo
Minhas certezas
E finjo tão bem
Que nelas acredito

Quantas guerras
Quanto sofrimento
Quantas brigas
Quanto rompimento
Por este estúpido motivo
Suscetível
Melindroso

É compreensível
Orgulho é fraqueza
Muito mais difícil
É ser humilde

terça-feira, 3 de maio de 2016

Não te ausentes

Não tenho casa
Porto ou parada
Casa é este colo
Porto é morada
Pois dura pouco
Apenas o tempo
Em que se passa

Se fico
Não é por cansaço
Tampouco preguiça
Conveniência ou egoísmo
É por livre escolha
Se cá estou
É porque a tu me dou
O tempo que permaneço

Então não te ausentes já
Não penses na estrada
Solitária que um dia levar-me-á
A desconhecidas searas

Não penses na grandeza
Incomensurável do mundo
Que perna nenhuma tudo há de correr
E vista há de ver

O que importa somente
É o que os olhos veem
E o coração sente
Neste tempo e lugar presente

Poema atrapalhado

Tenho as pernas curtas
Feitas para caminhar
Não para correr

Tenho as mãos pequenas
Feitas para acarinhar
Não para bater

Tenho os pulmões rasos
Bons para respirar
Devagar, sem pressa

O fôlego
É curto
O punho
Brando
O passo
Minúsculo

Mas o peito
Este eu tenho fundo
Um abismo
Prenhe de esperanças e sonhos

Por causa deste coração
Sem cabimento
Me atrapalho todo

Se corro, tropeço
Seguro tudo e
Sem jeito, derrubo
Inspiro o mundo
Me encho
Mais que posso
E sufoco