sexta-feira, 14 de maio de 2010

A solidão e a rua


Uma pessoa caminha solitária pela rua. Presumi-se que a noite esteja iluminada. Ela não saberia dizer em que fase a lua está.

Com passos mecânicos, caminha em direção ao ponto de ônibus. Por um momento detêm-se defronte a uma vitrine onde, por poucos instantes, sonha com um conjunto de blusa e saia. “Apenas 59,90”, observa. Segue em frente.

Uma viatura policial passa apressada e quebra o silêncio. A prostituta parada à esquina assusta-se. Logo atrás alguns jovens mexem com ela.

Seus pensamentos caminham ao lado. Pari passu. Não consegue livrar-se deles. Ela acelera o passo, mas eles lhe acompanham paralelamente. É inútil.

O relógio eletrônico prostrado no meio da rotatória aponta uma e meia da manhã. É hora de partir. Sempre é hora de partir.

Automaticamente ela prognostica o dia de amanhã em sua mente. Será basicamente igual ao de hoje. Não muda nada. Nunca muda nada.

Num relampejar a mãe vem-lhe à cabeça. Como estará? Ela andava se queixando de dores no peito. Queria vê-la. Queria deitar a cabeça em seu colo protetor.

Seus pensamentos são interrompidos por uma dolorosa visão: uma família inteira deitada ao relento, dividindo trapos e fazendo-os de cobertor; tentavam se unir para debelar o frio da noite.

Ela para por alguns instantes. Seus pensamentos enfim somem à esquina.

Anda em direção à família. Todos a olham perplexos. Nunca ninguém havia se dirigido a eles. Ela não diz nada. Observa-os detidamente, como quem aprecia a tristeza da solidão. Sem dizer nada, a moça senta ao lado da mãe, puxa parte do cobertor sobre si, aninha seu corpo contra o dela, a cabeça põe aconchegada contra o peito da mulher, e dorme.

Amanhã tudo será diferente.