quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Conflitos

Desentendimentos bobos
Por coisas sem valor
Já me tiraram mais de um amigo
E levaram pessoas para nunca mais voltar
Rixas que só têm sentido
De momento
Quando muito
Mas que meu orgulho
Minha tola vaidade
Impediu de perdoar

Hoje me sinto ridículo
Uma criança mimada
Um velho rabugento
Acumulando mesquinharias
Que nem eu dou mais valor
Passeando sozinho no parquinho roto da memória
Cheio de rancor
Chamando por nomes que não estão mais aqui
Querendo fazer as pazes
Porém teimoso demais para admitir
Que todas essas bobagens
De nada valiam

As pessoas foram-se embora
Me deixaram só com minhas ninharias
E minha cara feia e emburrada
Ninharias pelas quais não valia brigar
Ninharias que de fato ninguém queria
Por pirraça, o tempo há de me subtrair
Cada uma delas
E nada me restará
Além das desculpas decoradas
Palavras por palavras
Que eu nunca tive coragem de dar

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Equilíbrio

Há momentos de lembrar
E outros de olvidar

Dos exemplos ruins
E dos bons

Há hora para otimismo
E outra para pessimismo

Para ser racional
E passional

É preciso estar sempre transitando
De um lado a outro

Equilíbrio não é estado
Que se chega ao final

É movimento
Que nunca cessa

sábado, 22 de outubro de 2016

Confusão

Ando mui confuso
Tão precários são meus supostos
Pobres supostos, quando muito

Será excesso de informação?
Salutar precaução?
Ou incapacidade de tomar posição?

A confusão tem-me feito em pedaços
Fragmentado, não me reconstruo
Tampouco me acho

Confuso por isto, por aquilo
Confuso por isso tudo
Ponho-me em cima do muro

E sou tão confuso
Que nem mesmo sei se sou eu que confundo
Ou se é o mundo

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Fronteiras

Aonde quer que olhe eu vejo
Fronteiras

Traçadas
Serrilhadas
Pontiagudas e cortantes
Armadas
Bem guardadas
Linhas pontilhadas num mapa
Imaginárias

Seres humanos são pedreiros
Mestres na arte de levantar muros
Suas fronteiras apartam
Segregam e desunem

Fronteiras que dividem o mundo
Mas também as pessoas que nele vivem
Entre justos e injustos
Bons e maus
Verdeiros e falsos
Entre nós e os outros

Nossas fronteiras partem mas não repartem
Partilham mas não compartilham
Fronteira cortando fronteira
E havemos de despedaçar-nos todos um dia

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Seja homem

Desde criança
Me dizem para ser homem
Mas quantas maneiras
De ser homem
Não há!

Tem a maneira fácil
O homem que oprime
Que manda e desmanda
Homem de grande poder
Porém moral pequena
Homem não aceita afronta
Homem faz sua própria vontade
Prevalecer

E tem a maneira difícil
O homem de caráter, íntegro
Que ouve, que respeita
E sabe compreender
Homem bom e justo
Que não é melhor que ninguém
Qual desses homens
Querem que eu seja?

Me pediram para ser homem
Mas não me disseram qual deles
Eu deveria ser
Agora que eu sou o homem que me tornei
Eu posso ver
Que quem me ensinou a ser homem
De verdade
Foi a mulher

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Instrospecção

Escrever como Fernando Pessoa
Falar de mim, jamais dos outros
Conjurar meus anjos e demônios
Desnudar-me em sentimentos a alma
Mergulhar no profundo sem fim do Eu
No mais íntimo do ser
E me descobrir assim
Pela metade e inteiro
Faltando e completo
Um quebra-cabeça que não se encaixa
Enfim, poema sem métrica, verso sem rima
Canto sem harmonia, dança sem ritmo
Ora, tal qual a vida mesmo
Como Pessoa, falar de mim
Não porque interessa
Não porque importa
Mas porque dentro de mim estou
Falar do que fui, do que nunca serei
Mas também falar do que sou
Que sou eu senão a soma de meus sonhos?
Sonhos que me trouxeram até aqui
E aqui me abandonaram
Ou que eu abandonei
Sonhos que me deram força de início
E me fizeram fraco no fim
Sonhos que me deram sentido
Sem sonhos eu não existo
Mas meus sonhos só por mim existem
Nisso não difiro de ninguém
A vida é essa mistura inconsistente
Sonhos, amores, ódios, planos, promessas
Escrevem histórias, destinos e lembranças
No fundo, somos todos muito parecidos
Mas as diferentes misturas desses ingredientes
Fazem cada um de nós seres único

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Tempos de (in)certezas

Hoje eu acordei confuso, cheio de dúvidas
Levantei incerto e levei minhas incertezas junto
As tarefas são muitas; as garantias, nenhuma
Ao meio dia fugi de um grupo de evidências
Que vinha brandindo óbvias verdades pelas ruas
E desviei de uma afirmação que tentou me asseverar
Soltei uma e outra interrogação por aqui e acolá
Nada que eu pudesse garantir com segurança
Expliquei: eram apenas honestas perguntas
Hesitei quando me apontaram um inequívoco fato
Por um instante abalou-se minha convicção de ser cauto
Mas porque sou incerto, a assertiva aceitei
Só que com reserva e cuidado
Tomaram-me por ignorante, burro, idiota
Que não entende o certo, o notório e o ululante
Vacilante, não pude me decidir quanto ao mais apropriado
Se burro, idiota ou ignorante
Tudo é tão duvidoso, indefinido e ambivalente
Que a única premissa que aceito
É manter em mente meus próprios limites
Juntei prudência, tolerância e transigência
Fiz minha trouxinha de dúvidas e continuei
Verdades eu vou deixando pelo caminho
Na bagagem levo só conhecimento

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Preconceito

Eu estou cheio
De pré-conceitos
Que me deixam estúpido
Quase tudo que apreendo
Cai fora dos meus quadros
Quadrados
Cognitivos
E o que eu entendo?
O que aprendo
De verdadeiro
De novo?
Se tudo que sei
Já sabia a princípio

Eu estou cheio
De tanto preconceito
De negar o que me é alheio
De me afastar do que desconheço
De procurar apenas o afeito
De ser sempre o mesmo
O mesmo pensamento
Quadrado
Fechado
Pequeno

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Navega

Não posso prever o futuro
Nem dele ter qualquer vislumbre
Ou garantia
Apenas espero, torço e rezo

Hoje, sou todo felicidade
Amanhã, quem sabe
Tudo pode estar perdido

Amanhã, me alcança a tristeza
Depois, quem garante
O mundo de novo rodopia

A única certeza
É que tudo muda
Nada permanece

Como navegantes numa nau
Não se vê além do horizonte
A tempestade pode estar logo à frente
Atravessá-la é questão de fé
E coragem
Porque sempre haverá outros mares
Para cruzar

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Poesia aos ultramodernos

No mundo de hoje
Tudo é tão
Efêmero
Incerto
Inseguro
Provisório
Que estamos todos
Abandonados
À própria sorte
À própria solidão

Encruzilhada

Deste agora
Departem tantos caminhos
Dá-se um giro
Meia-volta
Cambalhota
Ziguezagues
E para onde se estava indo
Não se vai mais

Então dá-se conta
Tudo que era tão certo
Todas aquelas promessas e planos
Eram lembranças
De um futuro que existiu jamais
Senão como sonhos

Um entre tantos caminhos possíveis
Uma entre tantas escolhas erradas
Para se arrepender depois
De cruzada a encruzilhada

Aprendizado

No começo
Não era mais do que a pura inocência
Rubra e pulsante
Alegre e vibrante
E então vieram as primeiras agressões
Lembro de sofrer um corte
Pequeno, cirúrgico
Bem no meio do coração
E depois outro
E mais outro
Os cortes foram se acumulando
Deixando todas aquelas marcas
Cicatrizes sob cicatrizes
Disseram-me que tudo ia ficar bem
Que era assim mesmo
Que eu estava aprendendo
Enquanto meu coração lanhado
Ia enrijecendo
Fui aprendendo a suportar
Cinicamente
A não me importar
A fingir que não estava doendo
E fingi tão bem
Que a dor cessou de fato
O vermelho tornou-se acinzentado
O batimento, mecânico
É musculoso
Mas sem graça
Duro e infeliz
E eu nem pergunto mais
O porquê
Foi assim que
Debaixo de todas essas cicatrizes
Eu perdi meu coração

Orgulho

O orgulho é tolo
É egoísta
Sente culpa
E culpa o outro
Mas a si mesmo
Não desculpa

O orgulho é orgulhoso
Pobre, mesquinho e tolo
Por orgulho
Toco fogo no mundo
Saio de casa
Inicio a Terceira Guerra

Mas meus erros
Estes não admito
Meus demônios
Eu não encaro

O orgulho
Não me ensina nada
Vou até às últimas
Falsas consequências
Sendo que bem sei
Que finjo
Minhas certezas
E finjo tão bem
Que nelas acredito

Quantas guerras
Quanto sofrimento
Quantas brigas
Quanto rompimento
Por este estúpido motivo
Suscetível
Melindroso

É compreensível
Orgulho é fraqueza
Muito mais difícil
É ser humilde

terça-feira, 3 de maio de 2016

Não te ausentes

Não tenho casa
Porto ou parada
Casa é este colo
Porto é morada
Pois dura pouco
Apenas o tempo
Em que se passa

Se fico
Não é por cansaço
Tampouco preguiça
Conveniência ou egoísmo
É por livre escolha
Se cá estou
É porque a tu me dou
O tempo que permaneço

Então não te ausentes já
Não penses na estrada
Solitária que um dia levar-me-á
A desconhecidas searas

Não penses na grandeza
Incomensurável do mundo
Que perna nenhuma tudo há de correr
E vista há de ver

O que importa somente
É o que os olhos veem
E o coração sente
Neste tempo e lugar presente

Poema atrapalhado

Tenho as pernas curtas
Feitas para caminhar
Não para correr

Tenho as mãos pequenas
Feitas para acarinhar
Não para bater

Tenho os pulmões rasos
Bons para respirar
Devagar, sem pressa

O fôlego
É curto
O punho
Brando
O passo
Minúsculo

Mas o peito
Este eu tenho fundo
Um abismo
Prenhe de esperanças e sonhos

Por causa deste coração
Sem cabimento
Me atrapalho todo

Se corro, tropeço
Seguro tudo e
Sem jeito, derrubo
Inspiro o mundo
Me encho
Mais que posso
E sufoco

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Ser humano

Da natureza humana
Eis a definição tradicional:

Ser duplo
Cindido
Razão e instinto

Um cérebro racional
Acoplado num corpo animal
Humano bicho

Corpo e natureza
Humano inteligência
Alma e espírito

Banal e extraordinário
A miséria da carne
A selvageria

O sublime do pensamento
A civilidade

Definição antiga
Dualista
Sem sentido

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Pela nuvem

A nuvem virtual
Traz-me você de volta,
E eu confundo lembrança
Com memória.
Tua presença
(Vívida ou vivida?)
É tão real, mas impalpável,
Incorpórea,
Etérea.
Tal como o agora,
Perde-se num clique
Num bit de notícias
Vindas de além web

Não me entenda mal
É fugaz
Logo você novamente me escapa
Levando consigo nossas memórias
Como nuvens sopradas
Pelo vento inexorável
Isso não me entristece
A forma se perde
Mas eu acho graça
Da certeza que, para todos nós
A vida passa
E há sempre novas histórias
A serem contadas
Feitas de pessoas reais
Que um dia serão níveas nuvens
Flutuando pelo azul do céu

quinta-feira, 17 de março de 2016

Imensa mansidão

Não sou fera
Nem bicho
Sou manso
Talvez não tanto pedra
Dura
Impávida
Inflexível
Indiferente
Sou mais como mar manso
Fluído
Plástico
Tolerante
Mas mesmo sereno
Ninguém pensa atravessá-lo
A nado
A mansidão imensa
Sempre vence
O mais forte dos braços