segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Juventude

Tenho um nó na garganta
O gosto amargo
De quem quis beber a vida
Pura, num só trago
E queimou a boca
E de gole em gole
Ficou bêbado
E a desperdiçou toda
Numa noite
Alegre de porre
Da qual mal me lembro
Acho que toda juventude
É assim mesmo
Um exuberante desperdício
Que se aproveita ao máximo
Justamente desperdiçando-a
Até a última gota
A juventude urge, é pressurosa
Tem sede, e é pródiga
Vive o hoje, o agora
O amanhã lhe parece tão distante, abstrato
O corpo é forte
O coração impetuoso
As pernas infatigáveis
A juventude nunca satisfaz-se
Com coisa pouca
Porque há sempre mais
Por fazer
O mundo é a sua concha
E nem nos damos conta
Que ela um dia acaba
E cá estamos nós
Assombrados por erros
Sentados sobre um amontoado de lembranças amareladas
Do que poderia ter sido
E não foi
Foi-se
Para sempre
E só nos resta perguntar
Estupefatos
Como diabos vim parar aqui?
O engraçado da vida
É que se a vive sem saber vivê-la
E quando se aprende
O tempo da vida já passou
A juventude
Que era primavera
Cheia de promessas
Esfriou, anuviou e fez-se inverno
Então somos velhos
Atulhados em culpas
Ranzinzas e rancorosos
Talvez arrependidos
Talvez satisfeitos
Mas quase sempre muito machucados
Cultivando mágoas
Como fantasmas saudosos do passado
Certos de que é isso mesmo
O fim das ilusões
Que significa tornar-se adulto
Abjurar de sonhos vãos
O fato é que ninguém irá lhe ensinar
Como viver uma boa vida
Como crescer e evoluir
Com sabedoria
É saber que não se encontra
Em livros ou nos ditos da avó
Em pitos de mãe
Ou conselhos de amigos
É preciso descobrir por si mesmo
Não há outro modo
Senão aprender do pior jeito
Com os próprios erros
Haverá tempo ainda?
Sempre há
O que falta
É coragem
A coragem da juventude

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