domingo, 2 de fevereiro de 2014

A rua

Na rua se vê beijos
Abraços, mãos dadas
Se vê caras amarradas
Marmitas amassadas
Olhares de medo
Portas abertas e fechadas
Janelas lacradas
Câmeras e guardas
E muito dinheiro
Indo de lá pra cá, de cá pra lá
Trocando de mãos pelos guichês e caixas
Parece complicado
Mas é fácil resumir toda essa bagunça
Se me vem dinheiro, sorrio
Se me vai, corro atrás de mais
Se não fosse o dinheiro
Tudo isso parava
O semáforo não abria
A cidade não dormia
Nem acordava

Na rua se vê também muita gentileza
Algumas verdadeiras, outras falsas
Obrigados insinceros
Tudo de bons irrefletidos
Dá licenças que’u tenho pressa
Desculpas de não posso fazer nada
Não faço as leis, só as cumpro
Em cada esquina, em cada cruzamento
Um encontro e uma despedida
Um rápido aceno
E já se perderam novamente na multidão
Quem sabe no próximo ano
Eu a convide para aquela bebida
– Meu Deus, olha a hora!
Tô atrasado pra reunião!
Meu chefe me mata!
Tchau, tudo de bão
Mande recordações à família
Melhoras à sua tia
E parabéns pela promoção

Por sorte pela rua se vê também loucos
Profetas, artistas, poetas e bêbados
Militantes, anarquistas, punk e hippies
Alguns até são tudo isso ao mesmo tempo
Gente que não fica presa no trânsito porque vai de bike
Que está cagando para o fim da família brasileira
Que acolhe cães e gatos, como eles, sem abrigo

O que seria da rua não fosse os descontentes
Para quebrar a pobre monotonia do dia a dia?
Para nos fazer ver que o cotidiano não é destino
Mas uma escolha que refazemos inconscientemente todos os dias?

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