quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ode à vida

Sentei-me à beira do desconhecido
E contemplei
O que não podia conhecer
E, de repente
Fez-se precipício
E pude perceber as almas
Lá embaixo
Às milhares
Atarefadas, atabalhoadas
Colidindo-se
Extraviadas entre carros e concreto
Outrora desconexo
Da perspectiva das nuvens
O cheiro de morte
Ressudando do asfalto
A cerveja barata
A pressa
A comida requentada
Os pequenos acasos
Que pululavam
Vistos do alto
E os sorrisos
As brigas
O amor e ódio
Pareciam fazer mais sentido
E como tudo era belo
Do silêncio pacífico do céu
A descortinar dádivas diárias
Desperdiçadas sem perdão
Uma espécie de milagre
Aquele carnaval
Misturando suor e saliva
Lágrimas e ressaca
E eu fiz menção de descer
Juntar-me ao cortejo
À procissão dos condenados a viver
Misturar-me ao desfile
Transar na rua
Levar socos e pontapés
Abandonar e ser abandonado
Correr o risco
De acabar sozinho
Velho sem ter vivido
Num dia nublado qualquer
Enquanto duas pessoas
Fugindo da chuva
Se guardam mudas
Debaixo de um toldo furado
Na esperança da banda passar
Se guardando
Para quando o carnaval chegar

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