quinta-feira, 18 de abril de 2013

Outono (ou o tempo da preguiça)

Ó! Sonolentas tardes de outono
Tirano da preguiça e da desídia
Ditador dos dias mortos e longos
Consagro a ti toda minha acídia

Mas, espere...

Não é assim que quero fazer de ti,
Outono infindo, poesia.

Não, não me agrada o classicismo,
Poético, de pura bizarria.

Quero falar de ti de peito aberto,
Sem cerimônia ou teoria.

Falo de ti com o coração sincero,
Carregado de monotonia.

(...)

Há alguma coisa de misterioso,
Na atmosfera quieta do outono.
Algo da natureza dum monge,
Nalgum lugar ermo e recôndito,
Meditando só sobre o segredo,
Do universo infinito e incógnito.
Desta vida, é o interno degredo,
Do qual eu, satisfeito, sou acólito.

O porquê dessa característica,
Tão bela, é-me desconhecido.
Deixe que a explique a física,
Do ângulo de refração óptico,
Ao raio em meio a partículas.
Aos intuitivos olhos da poesia,
Explicações científicas soam,
Ora inúteis, ora ocas e vazias.

O tempo outonal passa devagar,
E os dias caminham impassíveis.
Parecem nos levar ao não lugar.
Convidam uma mente irascível,
A substituir emoção pelo pensar.
O silêncio cingi, incomunicável,
As almas em seu próprio penar,
O âmago torna-se morada afável.

É, contudo, introjeção maviosa,
Que deleita o espírito sensível,
À vida escrita em verso e prosa.
É como mãe, terna e carinhosa,
Que, amável, fagueira e caridosa,
Aninha, contra a mama afetuosa,
Extenuados pelo estio intratável,
Os filhos que à casa sua tornam.

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