terça-feira, 29 de outubro de 2013

O grito

Parecido com um eco ao contrário,
Vem num crescente, avolumando-se,
Ao invés de estiolar-se no horizonte;
Preenchendo os cânions das entranhas,
Rimbombando pelas paredes da garganta,
Forcejando para sair pela boca cerrada,
Que, quase sempre, lhe fornece resistência.

O grito quer explodir, como um vulcão,
Derramar-se do lado de fora do corpo,
Invadir o mundo como um tsunami,
Arrastando tudo para bem longe.
Quanto mais se represa o grito,
Mais violentamente ele investe contra a barragem,
E mais e mais força acumula para a investida final.

O grito não pode ser contido indefinitivamente,
Ele é como uma dessas forças elementares da natureza;
Podemos tentar prever seus abalos sísmicos,
Minorar suas consequências devastadoras,
Mas jamais assenhorar-se completamente de seu poder.
Ele será sempre a premissa newtoniana do mundo humano;
A garantia de que as coisas permaneçam em movimento,
Mas que mudem de sentido quando necessário,
Mantendo o nosso universo em permanente expansão.

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