terça-feira, 12 de junho de 2012

Aos trabalhadores do comércio (que não conhecem feriados nem festejam datas)

Disseram-me que se comemora uma data festiva lá fora.
Eu não sei, não. Se não fosse pelo movimento acelerado,
Para mim, este aqui e agora nada teria de diferenciado.
No mármore iluminado, o tempo é igual a qualquer hora.

Já passaram pela loja vários sorrisos abertos, generosos
Eles não desconfiam, mas isto significa trabalho dobrado
Devemos sorrir-lhes de volta, sorriso cínico e mecanizado
Ante o teatro burlesco, temos pensamentos desgostosos

Atendi mais uns, desejando isso e aquilo; “tudo de bom”.
Alguns são mofinas, outros copiosamente desbragados.
Olham, testam, e se vão dando econômicos “obrigado”.
Bem, antes deixassem o trocado do café e da condução.

Corre ali, acode aqui; vende, vende, sempre sorridente.
“Caiu-lhe muito bem, senhora”, é a praxe deste ofício.
”Quer ver algo mais”, “quer que embrulhe pra presente”
“Não? Tudo bem, volte sempre, foi bom fazer negócio”

E eu continuo na mesma, depois de incontáveis natais.
Mais tantos virão, os quais também não hei de festejar.
Entre tantas datas, se quer saber, eu prefiro carnavais.
Trata-se da única data que me é permitido comemorar.

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