Sede de tudo
Fome do mundo
Necessário atingir o fundo
Da alma
Esse abismo abrupto
Necessário derribar o muro
Do céu
Esse azul profundo
De pulo em pulo
Alcançaremos o Absoluto
quarta-feira, 27 de março de 2013
sexta-feira, 8 de março de 2013
Nós, as mulheres
Somos metade de toda a humanidade
O que não é pouco nem muito
E desde que o mundo é mundo
Vivemos sob o jugo da masculinidade
Já imaginou, viver toda a eternidade
Inferiorizada por um ser bruto
Violento, lascivo e sem escrúpulo?
No corpo, trago a história da desigualdade
Marcada a ferro e fogo na pele
Porque, se já fui escrava e gado
Hoje sou a predileta mercadoria dele
Objeto que se compra e vende
Objeto de prazer e de maus tratos
Desse passado trágico
As marcas eu carrego no ventre
Já fui a culpa e o pecado
A causa da queda e da danação
Já fui bicho fêmea, a esposa do bicho macho
Assim ainda me veem, naturalmente
Pode imaginar agora tal condição?
Como se fosse determinada geneticamente
De geração em geração, todas somos descendentes
Da primeira de nós a ser escravizada
Elos numa histórica cadeia de iniquidade
Humilhada, martirizada, injustiçada
Onde está a tão propalada igualdade?
Esse projeto da modernidade atraiçoada
Para melhor esconder essa simples verdade
Dizem hoje que podemos trabalhar
Amar, sonhar e viver com dignidade
Mas que trabalho é esse que eles não fazem?
Que amor é esse confundido com maternidade?
E com que pudor tolhem-nos a liberdade!
Queremos viver a nossa plena identidade!
Vocês tiveram toda a História para nos entender
Para decifrar essa esfinge que é as mulheres
Mas foram insuficientes todos esses milênios
Não nos culpem, porque tentamos fazê-los ver
Agora seu machismo nós devoraremos
O que não é pouco nem muito
E desde que o mundo é mundo
Vivemos sob o jugo da masculinidade
Já imaginou, viver toda a eternidade
Inferiorizada por um ser bruto
Violento, lascivo e sem escrúpulo?
No corpo, trago a história da desigualdade
Marcada a ferro e fogo na pele
Porque, se já fui escrava e gado
Hoje sou a predileta mercadoria dele
Objeto que se compra e vende
Objeto de prazer e de maus tratos
Desse passado trágico
As marcas eu carrego no ventre
Já fui a culpa e o pecado
A causa da queda e da danação
Já fui bicho fêmea, a esposa do bicho macho
Assim ainda me veem, naturalmente
Pode imaginar agora tal condição?
Como se fosse determinada geneticamente
De geração em geração, todas somos descendentes
Da primeira de nós a ser escravizada
Elos numa histórica cadeia de iniquidade
Humilhada, martirizada, injustiçada
Onde está a tão propalada igualdade?
Esse projeto da modernidade atraiçoada
Para melhor esconder essa simples verdade
Dizem hoje que podemos trabalhar
Amar, sonhar e viver com dignidade
Mas que trabalho é esse que eles não fazem?
Que amor é esse confundido com maternidade?
E com que pudor tolhem-nos a liberdade!
Queremos viver a nossa plena identidade!
Vocês tiveram toda a História para nos entender
Para decifrar essa esfinge que é as mulheres
Mas foram insuficientes todos esses milênios
Não nos culpem, porque tentamos fazê-los ver
Agora seu machismo nós devoraremos
domingo, 3 de março de 2013
Ode à melancolia (ou como a tristeza pode ser bela)
Profundo sentimento de comunhão
Com o mundo, esse alimento da alma
Tu não precisas de motivo ou razão
Para escrever poesia
Basta libertar, na forma da palavra
Escrita ou falada, essa beleza e alegria
Que, no fundo do leito, habita teu coração
Escolha uma música bonita, dessas que contagia
E dê vazão à sua mais profunda paixão
Sinta saudade e nostalgia
Elementos importantes à lírica de toda poesia
Um pouco de angústia e tristeza
Caem bem também
Além de preencherem o vazio da rima
Não se preocupe, porque sinto-me bem
Com essa melancolia que me aconchega
De mansinho, e que, com seu carinho
Me aninha em seu peito, em seu ninho
O amor que sinto é melancólico
Mas é também o ápice da felicidade
Que a mim foi dado experimentar em vida
Amar assim é a minha especificidade
A música já se repetiu várias vezes
É hora de encerrar essa poesia
Com o mundo, esse alimento da alma
Tu não precisas de motivo ou razão
Para escrever poesia
Basta libertar, na forma da palavra
Escrita ou falada, essa beleza e alegria
Que, no fundo do leito, habita teu coração
Escolha uma música bonita, dessas que contagia
E dê vazão à sua mais profunda paixão
Sinta saudade e nostalgia
Elementos importantes à lírica de toda poesia
Um pouco de angústia e tristeza
Caem bem também
Além de preencherem o vazio da rima
Não se preocupe, porque sinto-me bem
Com essa melancolia que me aconchega
De mansinho, e que, com seu carinho
Me aninha em seu peito, em seu ninho
O amor que sinto é melancólico
Mas é também o ápice da felicidade
Que a mim foi dado experimentar em vida
Amar assim é a minha especificidade
A música já se repetiu várias vezes
É hora de encerrar essa poesia
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Páscoa negra
Minha homenagem à alegria da Páscoa. Não canto a festa do comércio, nem o prazer do chocolate, e tampouco seu significado religioso. Canto às crianças escravizadas ao pé dos cacaueiros, que têm a infância roubada para cultivar a matéria-prima dos ovos de páscoa. 40% de todo o cacau do mundo é produzido na Costa do Marfim, sendo que a maioria da produção está alicerçada sobre a base do trabalho escravo e infantil. Isso a Nestlé e cia não divulga na embalagem dos seus produtos.
A páscoa negra
Pende no galho a dourada fruta
Colhem-na mãos puras e cândidas
Primaveris, senão calosas e brutas
Tolhem-lhe a única infância
Na lida daquela diuturna luta
Sem tempo para ser criança
Mãos que trabalham no campo
Antes usadas em alentadas brincadeiras
Noutras terras ficaram os pais
Não têm quem possa chamar por família
Dela, fazem as vezes o capataz
Mal saíra dos cueiros
E fora escravizada ao pé do cacaueiro
De criança nada mais lhe resta
As mãos que corriam o pega-pega
Hoje manuseiam facões amolados
Tão novas e tão crispadas
Essas mãos são já as de um velho cansado
Não servem para amar e não dão afago
São mãos tão-somente de trabalhar
Que homens inescrupulosos compraram
Assim como se compra uma vaca ou um bode
Fazendo da inocência um meio de trabalho
Instrumento descartável e solitário
Vai gastar-se depressa
E depressa outras virão substituí-las
Mãos para o trabalho é o que não falta
Nessa África explorada e oprimida
Será que essas crianças escravizadas
Suspeitam da alegria que suscitam
Nas crianças ricas de além-mar
Brancas e bem nutridas
Também tão inocentes e vestais
Que nada desconfiam da magia da Páscoa
De que a matéria-prima com que se fazem os sonhos
Trazem o sangue de meninas e meninos
De pés descalços e andrajos rotos
Se disso soubessem
Essas meninas e meninos gordos
Será que o chocolate ter-lhes-ia o mesmo gosto?
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
A locomotiva
É locomotiva a vida que passa
Traçada sobre longo trilho
Que a neblina esconde o sentido
Ora pesada, ela vagarosa se arrasta
Ora lépida, ligeira o caminho perpassa
Por sobre pontes, pradarias e pastos
A cada estação faz-se breve parada
Entre beijos e abraços
Uns desembarcam e se perdem na multidão
Vão sorridentes ou calados
Enquanto outros, em ritmo de viagem
Tomam o trem em direção a novas paragens
Onde, perto ou longe não se sabe
Encontrar-se-ão fortunas ou desditas
E lá se vai o trem novamente
Acenando a quem fica
“Mande cumprimentos e notícias!”
Ah, assim é a vida
Se é que me permistes a metáfora
Uma malha férrea a perder de vista
Entretecida de tristezas e alegrias
Encontros e despedidas
Resfolega a vagão das máquinas
Apita o apito da partida
“Todos abordo” um funcionário grita
Quem for ficar, fica
Quem for apear, apeie-se
Não sou eu o maquinista
Nem os passageiros
Nem aqueles alcunhados “surfistas”
Eu sou a própria locomotiva.
Traçada sobre longo trilho
Que a neblina esconde o sentido
Ora pesada, ela vagarosa se arrasta
Ora lépida, ligeira o caminho perpassa
Por sobre pontes, pradarias e pastos
A cada estação faz-se breve parada
Entre beijos e abraços
Uns desembarcam e se perdem na multidão
Vão sorridentes ou calados
Enquanto outros, em ritmo de viagem
Tomam o trem em direção a novas paragens
Onde, perto ou longe não se sabe
Encontrar-se-ão fortunas ou desditas
E lá se vai o trem novamente
Acenando a quem fica
“Mande cumprimentos e notícias!”
Ah, assim é a vida
Se é que me permistes a metáfora
Uma malha férrea a perder de vista
Entretecida de tristezas e alegrias
Encontros e despedidas
Resfolega a vagão das máquinas
Apita o apito da partida
“Todos abordo” um funcionário grita
Quem for ficar, fica
Quem for apear, apeie-se
Não sou eu o maquinista
Nem os passageiros
Nem aqueles alcunhados “surfistas”
Eu sou a própria locomotiva.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Soneto da contradição
Tempestuoso é o turbilhão que me move
Crenças, vontades e esperanças ambíguas
Razão e coração, num abafado corre-corre
Desdizer-me é uma benfazeja característica
Às vezes triste, outras borbotoantes alegrias
Desesperança e fé convivem como podem
Dançam a dança de uma rítmica antinomia
Tantos ídolos são, incontáveis, os que morrem
Todos os dias, sem pesar ou misericórdia
Diluo erros e acertos numa confusa mixórdia
Doxas e prejuízos viram logo letra morta
Sacode as verdades, põe o avesso à mostra
Gira o mundo como se fosse uma roda
A cabeça nos pés e os pés pela rua afora
domingo, 16 de dezembro de 2012
A beleza do crime
"Alegra-te, lá vem a inspiração
Da praça, em fogo, voam pedradas
Um casal embuçado as mãos se davam
Alegra-te o coração, camarada
Aquela praça lotada, de gente transbordava
Todos uma só voz, em uníssona canção,
Alegra-te porque aí vem a revolução!
Entre pedras, socos e pontapés,
Pais, filhos, irmãos e amigos
Braços dados, beijos e afagos
É a revolução que vem vindo
Alegra-te, porque um novo amanhã é possível
E aquele casal, lindo, entre mil vozes
Um mesmo hino, um mesmo grito
E os dois a afrontar a ordem,
Um beijo para selar o compromisso
Cúmplices de um mesmo crime
Amar e sonhar,
Porque não se ama sem sonhar,
E não se sonha sem amar
Alegra-te, porque é um belo crime
Amar e sonhar,
É um belo crime, camarada."
Homenagem a todos os amantes incendiários pelas praças deste mundo.
Da praça, em fogo, voam pedradas
Um casal embuçado as mãos se davam
Alegra-te o coração, camarada
Aquela praça lotada, de gente transbordava
Todos uma só voz, em uníssona canção,
Alegra-te porque aí vem a revolução!
Entre pedras, socos e pontapés,
Pais, filhos, irmãos e amigos
Braços dados, beijos e afagos
É a revolução que vem vindo
Alegra-te, porque um novo amanhã é possível
E aquele casal, lindo, entre mil vozes
Um mesmo hino, um mesmo grito
E os dois a afrontar a ordem,
Um beijo para selar o compromisso
Cúmplices de um mesmo crime
Amar e sonhar,
Porque não se ama sem sonhar,
E não se sonha sem amar
Alegra-te, porque é um belo crime
Amar e sonhar,
É um belo crime, camarada."
Homenagem a todos os amantes incendiários pelas praças deste mundo.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
O amor de Maria
Maria era filha de uma índia com um negro.
Nunca fora propriamente bonita, desde pequena.
Ao menos era o que toda a gente lhe dizia.
Nas brincadeiras de rua, alcunharam-na de "bugra".
Pobre de Maria, tanto afirmaram, que ela se cria feia.
Ainda menina, viera da Bahia para São Paulo.
Deixara sua terra tão querida, oito irmãos, pai e mãe,
Para trabalhar em casa de família na cidade grande.
Achou estranho quando a patroa, sem afetar a fisionomia,
Pediu-lhe que tomasse banho todos os dias antes do trabalho.
Certa feita, ouviu ela dizer ao marido que gente de cor "fedia".
Sentiu-se humilhada, mas, como Maria era muito humilde,
Abaixou a cabeça e fez-se como que de desentendida.
O problema é que, no fundo, não conseguia não lhe dar razão.
Ora, todo mundo agia assim, como se ela fosse repulsiva.
Na novela, nos filmes, nas séries, indígenas não havia.
Os negros recebiam apenas papeis de segunda categoria.
Quando jovem, Maria teve alguns casos, nenhum sério.
Homem nenhum lhe parecia valer a pena.
Nunca fora propriamente bonita, desde pequena.
Ao menos era o que toda a gente lhe dizia.
Nas brincadeiras de rua, alcunharam-na de "bugra".
Pobre de Maria, tanto afirmaram, que ela se cria feia.
Ainda menina, viera da Bahia para São Paulo.
Deixara sua terra tão querida, oito irmãos, pai e mãe,
Para trabalhar em casa de família na cidade grande.
Achou estranho quando a patroa, sem afetar a fisionomia,
Pediu-lhe que tomasse banho todos os dias antes do trabalho.
Certa feita, ouviu ela dizer ao marido que gente de cor "fedia".
Sentiu-se humilhada, mas, como Maria era muito humilde,
Abaixou a cabeça e fez-se como que de desentendida.
O problema é que, no fundo, não conseguia não lhe dar razão.
Ora, todo mundo agia assim, como se ela fosse repulsiva.
Na novela, nos filmes, nas séries, indígenas não havia.
Os negros recebiam apenas papeis de segunda categoria.
Quando jovem, Maria teve alguns casos, nenhum sério.
Homem nenhum lhe parecia valer a pena.
Maria desconhecia o amor ideal, e envelhecer sozinha,
Sem companhia, eis o que considerava sua desdita.
Mas seu último caso trouxe à luz um rebento, lindo como o dia.
E Maria não conseguia entender como isto seria possível.
Fruto de sertanejo migrante misturado à sangue indígena,
O menino, de olhos negros e tez retinta, resplandecia.
E Maria, agradecida, era só sorrisos e alegria.
Mas seu último caso trouxe à luz um rebento, lindo como o dia.
E Maria não conseguia entender como isto seria possível.
Fruto de sertanejo migrante misturado à sangue indígena,
O menino, de olhos negros e tez retinta, resplandecia.
E Maria, agradecida, era só sorrisos e alegria.
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