Domingo é dia de ressaca
De ficar em casa
De bobeira
Sem fazer nada
Numa total pasmaceira
Com a boca cerrada
Sem emitir palavra
A mente embotada
Ouvindo besteira
Que vem da tevê ligada
O dia todo, a tarde inteira
Na estante da sala
Domingo é dia de descanso do gado
Que trabalha a semana toda qual condenado
Em troca dum mísero salário
Domingo é o dia do proletário
Onde patrão não mete os dentes
É dia que se tem pra gente
Mas que, necessário for
Se troca, se aluga ou se vende
Afinal, para o trabalhador
Sábado, domingo ou segunda
O dia é indiferente
Todo dia é dia de luta
E a semana sempre recomeça novamente
Se você viajou
O Domingo é a volta
Se você ficou
É o crepúsculo da bossa
E a véspera da fossa
Não existe domingo
Se você é da roça
Lá todo dia é de ofício
Sábado ou segunda
Pouco importa
É dia de sacrifício
Na lavra da terra bruta
Domingo é dia de ficar só
Pra quem é sozinho na vida
Pra quem vive no xilindró
É dia de aguardar visita
Se você é livre e tem família
É dia de almoço na casa da vó
Dê valor se você ainda tem uma
Se você já perdeu a sua
O domingo fica triste de dar dó
domingo, 7 de julho de 2013
Um domingo qualquer
É domingo
Faço macarrão
Tomo vinho
Veja só, na taça!
Escuto Beatles
No vinil da sala
Tudo muito bom
Tudo muito massa
Só que não
Tô sozinho
E sozinho não tem graça
Faço macarrão
Tomo vinho
Veja só, na taça!
Escuto Beatles
No vinil da sala
Tudo muito bom
Tudo muito massa
Só que não
Tô sozinho
E sozinho não tem graça
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Conjugando o amor
Eu me obrigo a acreditar
Que o amor existe e está vivo
Não apenas como substantivo,
Coisa concreta, com causa e efeito
Mas como o verbo amar
Não como objeto, passivo
Nem somente como sujeito
Com nome próprio e adjetivo
Amor é a ação de amar
Não precisa de complemento
É verbo intransitivo
Tem em si sentido completo
Que só existe em ato coletivo
Pois o amor, tal como o verbo,
Deve ser conjugado
E não pode ser flexionado
Senão com todos nós unidos
Eu, tu, elx, nós...
Que o amor existe e está vivo
Não apenas como substantivo,
Coisa concreta, com causa e efeito
Mas como o verbo amar
Não como objeto, passivo
Nem somente como sujeito
Com nome próprio e adjetivo
Amor é a ação de amar
Não precisa de complemento
É verbo intransitivo
Tem em si sentido completo
Que só existe em ato coletivo
Pois o amor, tal como o verbo,
Deve ser conjugado
E não pode ser flexionado
Senão com todos nós unidos
Eu, tu, elx, nós...
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Do cansaço
Eu faço de tudo
Mas nada dá certo
E me sinto um estúpido
Pois tudo eu desconserto
Vou fazendo de tudo
Isso quando eu faço
E me sinto absurdo
Por tudo fazer errado
Por fazer, resta tudo
E todo o resto é vão
Comigo ficam putos
Por nada fazer de bom
Fazer de tudo
É tudo quanto eu faço
Tento emendar, contudo
As merdas que fiz no passado
Fazendo de tudo
Nesta longa viagem
E deixo todos furibundos
Tamanha minha inabilidade
Há muito por fazer, muito
E me dá profundo cansaço
Ter de fazer de novo tudo
Já que sempre farei errado
Faço de novo tudo
De praxe, equivocado
Tento concertar neste mundo
Porque não há nada doutro lado
Do começo, de novo tudo
A persistência é o segredo
Talvez o erro seja fecundo
Pois é dele que vem o acerto
sábado, 8 de junho de 2013
Memórias do trapiche
Ao trapiche minha história está ligada
Velho trapiche
Que com as águas do mar bailava
Ah, se você o visse!
Como era belo o por do sol e a alvorada
Sentado no trapiche
Via-se o horizonte de água azul-esverdeada
E quando a noite caísse
Era a luz da lua que o véu rebrilhava
Dos tempos de meninice
Velho trapiche
Que com as águas do mar bailava
Ah, se você o visse!
Como era belo o por do sol e a alvorada
Sentado no trapiche
Via-se o horizonte de água azul-esverdeada
E quando a noite caísse
Era a luz da lua que o véu rebrilhava
Dos tempos de meninice
Restou a imagem que a memória guarda
Que muita viva persiste
* * *
Cresci junto ao trapiche e às águas
Jungidos desde tempos ancestrais
Era o trampolim da molecada
Dedicada a aprimorar saltos mortais
Brincadeira que lavava a alma
Banhada no mar de águas vestais
Vivíamos mais no trapiche que em casa
Mergulhados em meio aos corais
Dele, ainda nas escuras madrugadas
Meu pai saia com a turma para pescar
Quando ele ao meio dia regressava
Encontrava-o de sorriso farto, sem pesar
E depois de um longo abraço apertado
Ajudava-os com o trabalho de descarregar
Era um mundaréu de peixe pra todo lado
E íamos todos satisfeitos para casa almoçar
* * *
Que muita viva persiste
* * *
Cresci junto ao trapiche e às águas
Jungidos desde tempos ancestrais
Era o trampolim da molecada
Dedicada a aprimorar saltos mortais
Brincadeira que lavava a alma
Banhada no mar de águas vestais
Vivíamos mais no trapiche que em casa
Mergulhados em meio aos corais
Dele, ainda nas escuras madrugadas
Meu pai saia com a turma para pescar
Quando ele ao meio dia regressava
Encontrava-o de sorriso farto, sem pesar
E depois de um longo abraço apertado
Ajudava-os com o trabalho de descarregar
Era um mundaréu de peixe pra todo lado
E íamos todos satisfeitos para casa almoçar
* * *
Quantas gurias sem frescura não amei,
Misto de sexo e brincadeira
Encima daquele trapiche?
Ali, onde rangidos de madeira
Misturavam-se a gemidos de desejo
Sob a luz alva da lua cheia
A gente trocava carícias e beijos
Misto de sexo e brincadeira
Encima daquele trapiche?
Ali, onde rangidos de madeira
Misturavam-se a gemidos de desejo
Sob a luz alva da lua cheia
A gente trocava carícias e beijos
E o trapiche virava a alcoviteira
Desses amores feitos sem jeito
[ainda por terminar]
Desses amores feitos sem jeito
[ainda por terminar]
Solidão (CLXII)
Esta solidão maçante
É perene e intrínseca
Angustiante imensidão
Que encomprida a vida
Rato e queijo parmesão
E como rói a bandida!
Mergulhado na rotina
Empedrou-se o coração
Que vez ou outra, a união
De dois amantes liquidifica
Condição desenxabida
Sina de cavalo azarão
Ora, no curso desta vida
Muitas águas rolarão
Tantos amores e desditas
São as pedras que virão
Em meio à perna que caminha
Só por caminhar, sem razão
Mas isso é coisa minha
À qual não cabe generalização
Vivo a vida como despedida
E assim me encontrarão
É perene e intrínseca
Angustiante imensidão
Que encomprida a vida
Rato e queijo parmesão
E como rói a bandida!
Mergulhado na rotina
Empedrou-se o coração
Que vez ou outra, a união
De dois amantes liquidifica
Condição desenxabida
Sina de cavalo azarão
Ora, no curso desta vida
Muitas águas rolarão
Tantos amores e desditas
São as pedras que virão
Em meio à perna que caminha
Só por caminhar, sem razão
Mas isso é coisa minha
À qual não cabe generalização
Vivo a vida como despedida
E assim me encontrarão
terça-feira, 4 de junho de 2013
A boca
A boca é palavra
Cantada ou dita
Ela pergunta ou se cala
Com outras palestra
Ou sozinha recita
Declama poesias
Exprime ideias
Ou contra elas grita
A boca é da palavra a lida
Que o pensamento velava
Pode ser popular ou erudita
Coloquial ou prolixa
O importante é que quando fala
Ela ao mundo comunica
Uma ideia ou um ponto de vista
À imaginação empresta asas
Que aos quatro cantos o vento leva
Torna pública e sabida
Da expressão a boca é o azo
Que contra a vida protesta
Ou com ela se solidariza
* * *
A boca é objeto de desejo
É o alvo do murro
Ou o ensejo do beijo
Concedido ou roubado
Num momento de descuido
Torcida num êxtase enlevado
A boca é a imagem do gozo
Entre gemidos longos e moucos
Ela faz promessas abafadas
Emite sussurros roucos
Com os lábios o sexo agarra
Perde por pouco o dom da fala
Ou então, em impulsos loucos
Grunhi palavras despudoradas
* * *
Boca, abre-te e fala
Fala porque boca que é boca
Não se cala
Abre-te, vistosa e larga,
Amistosa ou braba
Num ricto de escárnio
Zombaria e sátira
Ou num ranger de dentes
Lançando mordentes palavras
Mas não te cala
Abre-te, boca
Abre-te e fala
Porque boca quando é boca
Jamais permanece fechada
Fala e dá a conhecer ao mundo
Ideias novas e impensadas
Fala porque quem tem boca
Faz a História que um dia,
Por outras bocas, será contada
Cantada ou dita
Ela pergunta ou se cala
Com outras palestra
Ou sozinha recita
Declama poesias
Exprime ideias
Ou contra elas grita
A boca é da palavra a lida
Que o pensamento velava
Pode ser popular ou erudita
Coloquial ou prolixa
O importante é que quando fala
Ela ao mundo comunica
Uma ideia ou um ponto de vista
À imaginação empresta asas
Que aos quatro cantos o vento leva
Torna pública e sabida
Da expressão a boca é o azo
Que contra a vida protesta
Ou com ela se solidariza
* * *
A boca é objeto de desejo
É o alvo do murro
Ou o ensejo do beijo
Concedido ou roubado
Num momento de descuido
Torcida num êxtase enlevado
A boca é a imagem do gozo
Entre gemidos longos e moucos
Ela faz promessas abafadas
Emite sussurros roucos
Com os lábios o sexo agarra
Perde por pouco o dom da fala
Ou então, em impulsos loucos
Grunhi palavras despudoradas
* * *
Boca, abre-te e fala
Fala porque boca que é boca
Não se cala
Abre-te, vistosa e larga,
Amistosa ou braba
Num ricto de escárnio
Zombaria e sátira
Ou num ranger de dentes
Lançando mordentes palavras
Mas não te cala
Abre-te, boca
Abre-te e fala
Porque boca quando é boca
Jamais permanece fechada
Fala e dá a conhecer ao mundo
Ideias novas e impensadas
Fala porque quem tem boca
Faz a História que um dia,
Por outras bocas, será contada
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Ciência
Eu a tudo racionalizo,
Logicizo, enquadro e classifico,
Torno cálculo e generalizo.
Sistematizo toda a vida,
Em hipóteses e princípios,
Fórmulas e polígonos,
Uso regras de metodologia,
Junto a dados estatísticos,
E transformo tudo,
Em procedimentos científicos.
As pessoas eu vejo,
Como compostos químicos,
Quânticos, em movimento.
Seres orgânicos e físicos,
Cujo comportamento,
Reproduz, como um autômato,
Entediante padrão mecânico.
Fórmula numérica, razão e proporção;
Conclusão genérica, indução e dedução;
Figura geométrica, silogismo e ilação;
Dúvida metódica, e instrumentalização;
Logicizo, enquadro e classifico,
Torno cálculo e generalizo.
Sistematizo toda a vida,
Em hipóteses e princípios,
Fórmulas e polígonos,
Uso regras de metodologia,
Junto a dados estatísticos,
E transformo tudo,
Em procedimentos científicos.
As pessoas eu vejo,
Como compostos químicos,
Quânticos, em movimento.
Seres orgânicos e físicos,
Cujo comportamento,
Reproduz, como um autômato,
Entediante padrão mecânico.
Fórmula numérica, razão e proporção;
Conclusão genérica, indução e dedução;
Figura geométrica, silogismo e ilação;
Dúvida metódica, e instrumentalização;
Raciocínio crítico, leis e abstração:
Eis as minhas formas de compreensão.
A mim, todo pensamento,
Por mais inocente e lúdico,
Vira estrutura matemática.
Mera forma, sem conteúdo,
Simples recurso de retórica,
Tal como um teorema sisudo.
A mim, todo pensamento,
Por mais inocente e lúdico,
Vira estrutura matemática.
Mera forma, sem conteúdo,
Simples recurso de retórica,
Tal como um teorema sisudo.
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