quarta-feira, 25 de março de 2015

Cotidiano

A fachada iluminada
Pouco ilumina a alma
De quem passa pela calçada
Indo e vindo
Ou vindo e indo?
Preciso pensar
Preciso parar de pensar
A garganta apertada
Seca
Pede um trago
Meu templo é o bar
Parada pra rezar
Desce uma cachaça
Não queima
Leva a enxurrada
Pra dentro
A brasa estanca
O sangramento
De novo à rotina
Amortecido
Onde estava mesmo?
A caminho do trabalho
Ou voltando pra casa?
Preciso me lembrar
Preciso parar de lembrar
Desse avesso
Em tumulto
Em revolteio
Chocando-se contra o esqueleto
Virado
Todo dia logo cedo
Mal dormido
Mal alimentado
Mas aprumado
Com desodorante disfarço
O cheiro de medo
Caminho reto
Rumo certo
Acho que vejo tudo
Mas estou cego
Quero conquistar o mundo
Mas nem a fila do ônibus consigo
Nunca sou o primeiro
Meu cotovelo é demasiado curto
Pra abrir caminho
Nesse destino estreito
Doutor, tenho documento
E endereço
Nesse cotidiano
Não me perco

Apenas me esqueço
Porque tenho esse eterno vezo
De esconder o que sinto
E penso
De mim mesmo
De me afogar a noite
Pra nadar pela manhã
De ir dormir só hoje
Pra não gastar a companhia de amanhã
De ser infeliz agora
Esperando pra ver no que dá

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