Que segredos antigos, imortais, esotéricos, guardam esses olhos fascinantes e misteriosos, olhos de esfinge?
Que oceanos impenetráveis, selvas luxuriantes e montanhas majestosas escondem, como continentes virgens, intocados pela mão humana, esses olhos felinos?
Olhos de Monalisa, meio animais, meio angelicais, situados além do bem e do mau, acima do céu e do inferno; olhos profanos e divinos.
Olhos que seduzem, que cantam e encantam como o canto da sereia, e fazem os meus facilmente cativos, como navegadores incautos, de sua beleza mítica.
Olhos magnetizantes, hipnóticos, cujo fulgor, belo e mortal como o sol, fascina e enfeitiça os meus como se fossem mariposas presas à lâmpada.
Pobre dos meus olhos, indefesos, totalmente entregues como rês, sem conseguir desviá-los um segundo sequer, como se piscar na presença daqueles olhos fosse um sacrilégio, um pecado mortal.
Esses olhos verdes, entre esmeralda e turquesa, duas preciosidades a procura das quais, como mineradores febris, eu arriscaria tudo, numa cartada de sorte, atrás de sua rara riqueza.
Quem mira esses olhos sabe o perigo que corre, o risco de cair na armadilha de suas águas, claras e plácidas na superfície, porém turbulentas em suas profundezas, e dela nunca mais sair; mas não se pode evitar.
Olhos de Medusa: nem o risco de tornar-se pedra impede o trágico herói, tal qual o gato vitimado por sua inescapável curiosidade, de arriscar-se a olhar esses olhos, porque a morte não é nada se a recompensa é a sua visão.
Agora sei como se sentia o pobre Bentinho, ao mesmo tempo vítima e cúmplice, incapaz de resistir àqueles olhos oblíquos de cigana dissimulada, àqueles olhos de ressaca que parecem prontos a arremeter-se contra a praia numa tarde tempestuosa, para castiga-la, arrasá-la, e por fim tragar seu espólio para dentro do fundo do mar, onde há de ficar por toda a eternidade.
E como se deseja que eles o fizessem! Como, de bom grado, se espera ansiosamente pelo dia em que esses olhos engolir-nos-ão como a escuridão de uma noite sem lua!
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