A boca é palavra
Cantada ou dita
Ela pergunta ou se cala
Com outras palestra
Ou sozinha recita
Declama poesias
Exprime ideias
Ou contra elas grita
A boca é da palavra a lida
Que o pensamento velava
Pode ser popular ou erudita
Coloquial ou prolixa
O importante é que quando fala
Ela ao mundo comunica
Uma ideia ou um ponto de vista
À imaginação empresta asas
Que aos quatro cantos o vento leva
Torna pública e sabida
Da expressão a boca é o azo
Que contra a vida protesta
Ou com ela se solidariza
* * *
A boca é objeto de desejo
É o alvo do murro
Ou o ensejo do beijo
Concedido ou roubado
Num momento de descuido
Torcida num êxtase enlevado
A boca é a imagem do gozo
Entre gemidos longos e moucos
Ela faz promessas abafadas
Emite sussurros roucos
Com os lábios o sexo agarra
Perde por pouco o dom da fala
Ou então, em impulsos loucos
Grunhi palavras despudoradas
* * *
Boca, abre-te e fala
Fala porque boca que é boca
Não se cala
Abre-te, vistosa e larga,
Amistosa ou braba
Num ricto de escárnio
Zombaria e sátira
Ou num ranger de dentes
Lançando mordentes palavras
Mas não te cala
Abre-te, boca
Abre-te e fala
Porque boca quando é boca
Jamais permanece fechada
Fala e dá a conhecer ao mundo
Ideias novas e impensadas
Fala porque quem tem boca
Faz a História que um dia,
Por outras bocas, será contada
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