Somos metade de toda a humanidade
O que não é pouco nem muito
E desde que o mundo é mundo
Vivemos sob o jugo da masculinidade
Já imaginou, viver toda a eternidade
Inferiorizada por um ser bruto
Violento, lascivo e sem escrúpulo?
No corpo, trago a história da desigualdade
Marcada a ferro e fogo na pele
Porque, se já fui escrava e gado
Hoje sou a predileta mercadoria dele
Objeto que se compra e vende
Objeto de prazer e de maus tratos
Desse passado trágico
As marcas eu carrego no ventre
Já fui a culpa e o pecado
A causa da queda e da danação
Já fui bicho fêmea, a esposa do bicho macho
Assim ainda me veem, naturalmente
Pode imaginar agora tal condição?
Como se fosse determinada geneticamente
De geração em geração, todas somos descendentes
Da primeira de nós a ser escravizada
Elos numa histórica cadeia de iniquidade
Humilhada, martirizada, injustiçada
Onde está a tão propalada igualdade?
Esse projeto da modernidade atraiçoada
Para melhor esconder essa simples verdade
Dizem hoje que podemos trabalhar
Amar, sonhar e viver com dignidade
Mas que trabalho é esse que eles não fazem?
Que amor é esse confundido com maternidade?
E com que pudor tolhem-nos a liberdade!
Queremos viver a nossa plena identidade!
Vocês tiveram toda a História para nos entender
Para decifrar essa esfinge que é as mulheres
Mas foram insuficientes todos esses milênios
Não nos culpem, porque tentamos fazê-los ver
Agora seu machismo nós devoraremos
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